Berlim, a capital histórica dos erros e acertos.

Chegamos a Berlim pelo aeroporto de Schonefeld e lá mesmo pegamos um trem para o centro, seguindo as orientações do hostel. Teoricamente, o trem que nós pegamos já deveria nos deixar em uma estação bem próxima ao hostel, maaas, como nada pode ser tão simples nessa vida, o trem simplesmente parou no meio do caminho, antes de sequer chegar a Berlim propriamente dita e aí jogaram lá na tela uma mensagem que ali era o fim da linha, e que a gente deveria sair do trem e pegar outro. Ninguém entendeu nada e todo mundo continuou lá, sentadinhos, até que o cara da empresa começou a bater nos vidros das janelas por fora mandando “get out, get out!”, e aí o jeito foi sair mesmo, pegar um outro trem lá, depois trocar de novo, pegar o metrô, e finalmente, chegamos ao hostel.

Ficamos hospedados no St Christopher’s, que fica próximo à Alexanderplatz. A localização é muito boa, e o hostel em si também é legal. No térreo eles tem um pub que dá desconto para os hospedes e os preços são bons. Fica bem em frente a uma estação de metrô, o que foi ótimo, porque fomos a todos os lugares de metrô por lá.

Começamos o nosso tour pela Pariser Platz (praça parisiense), que é a praça onde fica o portão de Brandemburgo. O portão foi construído com o objetivo de ser realmente mais um dos portões da cidade, mas foi ganhando vários significados ao longo do tempo. Em cima dele, fica a figura grega de Irene e sua quadriga (que é essa charrete puxada pelos cavalos), como um símbolo de paz. Quando Napoleão chegou a Berlim, ele gostou da estátua, e levou embora com ele para Paris. Mais tarde, depois de perder a guerra, a estátua foi trazida de volta para o Portão, e agora Irene não era mais Irene, era Vitória, a deusa da vitória (oh).

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Portão de Brandenburgo.

Dizem por aí que a troca de deusas foi parte de uma piada que os alemães queriam fazer de que, não importa o que aconteça, eles sempre terão a vitória sobre Paris (pausa para risos).

Na Pariser Platz também fica o Hotel Adlon, onde Michael Jackson deixou sua criança pendurada para fora da janela.

Hotel Adlon.

Hotel Adlon.

MJ

Michael e o bebê.

Pertinho da praça fica o Memorial do Holocausto, que foi inaugurado em 2005 e serve para lembrar dos tristes acontecimentos que precederam a segunda guerra mundial. O memorial é enorme, e cheio de paralelepípedos de bases iguais, mas com alturas diferentes. Quando entrevistado, o arquiteto que planejou tudo se negou a dar um significado para sua obra. Segundo ele, ela foi feita para cada um entrar e interpretar à sua maneira. Á medida que a gente vai andando para o centro do memorial, o chão vai afundando e os paralelepípedos em volta vão ficando mais altos, passando uma sensação de sufocamento muito ruim. No total são mais de 2.700 blocos, que ocupam o espaço de uma quadra inteira. Gostei bastante do memorial, e achei legal essa idéia de deixar aberto a interpretações que obriga a gente a pensar um pouco, ao invés de simplesmente bater uma foto e ir embora.

Memorial do Holocausto.

Memorial do Holocausto.

No subsolo do memorial fica um centro de informações, com os nomes de todos os Judeus mortos na Europa. Lá tem uma linha do tempo com todos os acontecimentos que envolveram os judeus, tem também um mapa com os campos de concentração espalhados pela Europa, depoimentos de pessoas que sobreviveram mas que tiveram parentes mortos, cartas trocadas entre familiares, e outras coisas. Confesso que somente depois de ter visitado esse museu e de conhecer mapas e números assustadores foi que eu vi o quão grande e absurdo foi o sistema anti-semita implantado pelos nazistas.

Geralmente tem fila para entrar no museu, mas não é demorado, é só porque eles revistam as bolsas e mochilas na entrada e o museu é gratuito.

Saindo de lá, andamos um pouquinho e… tcharan, tcharan, chegamos ao muro de Belim! Uhuuu. Aí quando olhamos, piscamos, olhamos de novo…O que vimos foi um muro finíssimo, meio esburacadinho e bem mais baixo do que eu imaginava. E eu que estava esperando uma muralha de 2m de grossura e tão alta que nem passarinho poderia trocar de Berlim quando quisesse.

O Muro de Berlim.

O Muro de Berlim.

Observe que lá na parte de cima do muro tem uma estrutura arredondada. Essa estrutura servia para dificultar que as pessoas conseguissem pular o muro, pois elas colocavam o braço em volta, tentando se apoiar, mas não conseguiam porque escorregava. Obviamente, além do muro, tinham os guardas que ficavam de olho, prontos para meter bala em quem ousasse atravessar. E quanto aos buracos no muro, qual é o caso? O caso é que o muro é uma das principais atrações da cidade (se não a maior) e tem um significado histórico muito marcante, então os turistas -sempre eles!- queriam levar para casa um pedacinho do Muro de Berlim, então já iam bem equipados com suas marretas para arrancar uma lembrancinha histórica para levar embora consigo. Além disso, tinha gente que arrancava com fins comerciais, para depois vender no mercado negro. Deus nos proteja dos espertos!

Do lado de “dentro” do muro, fica outro museu que também é gratuito e que vale muuito a pena. Esse museu conta a história do nazismo, desde o comecinho até o seu final trágico. Aos poucos, a gente vai entendendo como  que a idéia toda foi implantada na cabeça do povo alemão, como funcionava a estrutura do governo, e como que  Hitler conseguiu apoio para fazer o que fez.

Voltando à história do muro, uma curiosidade que eu sempre tive foi como as pessoas que estavam de um lado, somente a passeio, poderia voltar pra casa. E quanto aos turistas? Teriam que se arriscar e tentar pular o muro, perigando levar chumbo? Claro que não. Para isso, existiam os Checkpoints, que eram portões de entrada e saída da Alemanha socialista, onde os não-residentes poderiam apresentar seus documentos e sair legalmente do lado depressivo da Alemanha.

O mais famoso é o Checkpoint Charlie, que existe até hoje. É claro, ninguém precisa mais mostrar documentos para ir de um lado ao outro, nem tampouco esses carinhas aí em baixo são soldados ou qualquer coisa do tipo. Eles ficam ali, com uma bolsinha a tiracolo, onde os turistas podem gentilmente colocar um dinheirinho em troca de uma foto com eles.

Checkpoint Charlie.

Checkpoint Charlie.

Também fomos conhecer a Humboldt Universidade de Berlim, onde estudaram Einstein, Planck, Marx e Engels. Foi da biblioteca dessa universidade que o governo nazista retirou vinte mil livros para serem queimados na praça que fica bem em frente, por serem livros que iam de encontro à filosofia implantada pelo regime. Hoje, nessa mesma praça, existe um monumento bem curioso para lembrar do evento. No chão da praça ficam duas janelas de vidro, de onde dá pra ver lá no subsolo uma biblioteca cheia de prateleiras, com espaço para 20 mil livros, mas que está vazia. Achei genial a idéia (tirei fotos, mas nenhuma prestou por causa do sol que estava refletindo na janela, sorry :().

Naquele museu do lado do muro, tirei uma foto da foto do evento da queima de livros. Desculpem a má qualidade, mas é que a foto estava no alto e eu sou baixinha..

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Foto da queima de livros em 10 de maio.

Na praça há uma inscrição em uma placa com a frase “Das war ein Vorspiel nur, dort wo man Bücher verbrennt, verbrennt man am Ende auch Menschen.” que quer dizer “Isso foi apenas um prelúdio, onde quer que eles queimem livros, vão acabar queimando pessoas também.” O interessante é que o autor, Heinrich Heine, escreveu isso mais de 100 anos antes do ocorrido.

O escritor, que era judeu, também teve seus livros queimados na grande queima de livros em 10 de maio de 1933. Obviamente, quando escreveu a famosa frase, ele não se referia ao evento mais atual, mas, sim à outra queima de livros, feita pela santa inquisição espanhola.

No caminho para a linda praça de Gendarmenmarkt, fizemos uma parada na loja de chocolates Fassbender & Rausch, somente para tirar fotos das esculturas lá dentro. Eles simplesmente tem um urso enorme de 160kg de chocolate! Mais impressionante do que o urso, eles tem umas réplicas em miniatura de alguns dos landmarks da cidade como o Reichstag e o Portão de Brandemburgo. Tem até um titanic de chocolate.

Ursão de chocolate.

Ursão de chocolate.

 

Reichstag de chocolate.

Reichstag de chocolate.

A última atração que visitamos na cidade foi justamente o Reichstag, mas dessa vez o real. O local onde hoje funciona o parlamento alemão já foi danificado e reconstruído algumas vezes ao longo dos anos. Uma delas foi quando o prédio foi incendiado, dizem, por um membro do partido comunista. Esse fato foi meio que decisivo para a tomada definitiva do poder pelos nazistas, e a partir daí vários direitos individuais foram suspensos, e começou a esculhambação toda. O cara que “provocou” o incêndio foi decapitado.

Reichstag

Reichstag

Dá pra entrar no Reichstag e subir até o domo, para ter uma vista bonita da cidade, mas a fila para reservar na hora é muuuuuito grande. A reserva pode ser feita pela internet com antecedência.

E depois do Reichstag foi correria total, com mochila nas costas, até a estação de metrô mais próxima, onde pegamos o trem de volta para o aeroporto. Dessa vez pegamos o trem expresso, que é muito mais rápido que o S-Bahn e custa o mesmo valor. Fica a dica.

Beijos!

Lenita