E aí que as aulas terminaram, as provas foram feitas, os trabalhos entregues e agora é só alegria até setembro. Durante esse intervalo estaremos trabalhando em um projeto escolhido por nós mesmos, com reuniões quinzenais com o orientador e uma vez por semana teremos que ir à faculdade para registrar presença, que é o que eles chamam de “check in”.
Hoje vai ser completada a minha primeira semana de “férias” e nada de muito útil foi feito até agora. Durante esses sete dias, o que eu mais fiz foi dormir. Meus planos iniciais eram outros, tinham algumas coisas na minha listinha mental que eu vinha adiando e que poderiam ter sido feitas nesses sete dias de preguiça, mas o tempo aqui de Coventry não está ajudando nadinha. Algumas semanas atrás começou a fazer sol aqui na cidade. Tivemos uns quatro dias ensolarados e a temperatura chegou aos 23 graus, uma maravilha! Tirei os shorts que trouxe do Brasil de dentro da mala (pensei que nunca fosse usar, então já deixei lá pra facilitar a mala da volta, haha), comprei até umas duas blusinhas sem manga na Primark, pretendendo pernas e braços bronzeadinhos do jeito que eu gosto. Quem disse? Depois daqueles poucos dias de esperança choveu muito, choveu granizo, o céu ficou fechado o dia todo, todos os dias, uma tristeza só. Quando chove aqui, é a realização daquele ditado: Está na chuva? é para se molhar! A chuva sempre vem acompanhada de muito vento, e ele vem em todas as direções, é impossível usar a sombrinha. O pior de tudo era sair na rua e ver o vento sacudindo as árvores com toda a força, levando embora as folhinhas coloridas que demoraram tanto tempo a aparecer. E eu ainda nem tinha saído pela cidade com minha super câmera para registrar a primavera em Coventry :(.
Chovendo, ventando muito e sem ter aulas, para quê mesmo que eu vou sair de casa? Para quê mesmo que eu vou acordar? O mais interessante é que aqui normalmente depois de um dia inteiro de chuva, quando começa a anoitecer, o sol aparece, para ficar por umas poucas horinhas e depois sumir de novo. O que não adianta muita coisa, porque aqui em Coventry a cidade simplesmente morre a partir das 18h. De verdade, nenhum comércio continua aberto depois disso, o city centre fica vazio, vazio. Não é motivo de surpresa se você estiver em uma loja e, de repente, às 18h em ponto as luzes se apagarem e os vendedores mandarem você ir embora. E o mais estranho é que nessa época o dia vai até as oito e tantas da noite, fica tudo claro, mas ninguém quer saber disso. Só tem dois lugares que continuam abertos depois das 18h: A faculdade de engenharia e…a academia. Bem, eu não estou tendo mais aulas, o que significa que não preciso ficar indo à faculdade, mas continuo comendo, o que significa que preciso ficar indo à academia.
Academia aqui em Coventry é um negócio engraçado. Os ingleses naturalmente tem umas peculiaridades de comportamento com as quais jamais conseguirei me acostumar. Eles vão à academia calçando All Stars (já vi gente de sapato também). Outro dia eu entrei na academia e estava lá uma mulher correndo na esteira de calças jeans, e no mesmo dia tinha uma menina usando meia-calça preta. E só. Não era legging, era só meia-calça mesmo. Nos vestiários, tem velha pelada por todo canto. Nunca vi tanta pelanca solta em toda a minha vida. As inglesas não saem nem chegam na academia com roupa de malhar, como fazemos no Brasil. Depois de malhar, suadas ou não, elas colocam a mesma roupa com a qual vieram vestidas, pra depois sair na rua. No começo eu ficava meio envergonhada em sair na rua com roupa de malhar porque eu sentia que as pessoas olhavam estranho. Mas, bem, do jeito que as meninas se vestem aqui, ninguém tem o direito de falar um pio sobre mim.
Uma das coisas que me chamam atenção é a quantidade de idosos e deficientes fisicos que frequentam a academia. Nos horários que eu costumo ir sempre tem muitos idosos e pelo menos um cadeirante ou deficiente visual. Os deficientes físicos aqui em Coventry saem muito nas ruas, provavelmente porque a cidade é toda acessível, com rampas e sinalização para os cegos em todos os lugares. Os velhinhos aqui andam para cima e para baixo com carrinhos motorizados onde vão a todos os lugares. Enquanto no Brasil os jovens ficam impacientes com os velhinhos que andam devagar nas ruas, aqui é exatamente o contrário, eles que andam nos carrinhos apressados e quem quiser que se pique da frente.
Logo quando eu cheguei na cidade, quando ia ao mercado eu sempre via vários velhinhos na fila e ficava pensando “opa, aqui é a fila dos idosos.”, mas não tinha nenhuma sinalização. Depois eu descobri que aqui não tem prioridade para idosos, é todo mundo igual. Aqui tem muito velhinho trabalhando como faxineiro, motorista de ônibus, caixa de supermercado, etc. Idosos aqui pagam passagem de ônibus também.
Comecei a enxergar Coventry com bons olhos na primavera. Durante o inverno, quando eu só via um monte de galho seco coberto de neve, eu pensava que nunca seria possível essa cidade se tornar um lugar agradável. Mas, bem, até que não é tão péssimo assim. Agora as árvores estão todas cheias e há flores por toda parte. Ontem o tempo ruim deu uma trégua e eu chamei Rafael para um passeio pela cidade e, claro, aproveitei para finalmente tirar umas fotos antes que as árvores estejam todas depenadas novamente.
Em um parque perto da minha casa.
Flores.
Floreees.
Oh, como sou espontânea e adoro a natureza.
City Centre vazio, depois das 18h.
Coventry é uma cidade histórica por já ter se ferrado muito na vida. Existe um termo famoso aqui no Reino Unido que, quando alguém é ignorado e as pessoas tratam como se ele não existisse, ele foi “sent to Coventry” (enviado para Coventry). Durante a segunda guerra, a cidade foi quase que completamente destruída pelos nazistas. As paredes da antiga catedral de St. Michael foram uma das poucas coisas que ficaram de pé após os bombardeios, e foi o que serviu de referência para a reconstrução do centro. Hoje em dia, Coventry é uma potência industrial, principalmente no setor automotivo. É aqui que são fabricados os famosos Cabs ingleses e também é onde fica a sede da Jaguar.
Ruínas da catedral após os bombardeios.
Foto que tirei ontem das ruínas. Ao invés de reconstruir a igreja, eles construiram uma novinha bem em frente e mantiveram a estrutura da antiga.
Na parede da nova catedral: A vitória de St. Michael sobre o diabo.
A partir dessa semana, já vou dar início ao meu projeto (tenho que decidir o que vou fazer pra ontem!) e também vou começar a planejar as próximas viagens, já que eu só tenho mais alguns meses por aqui e o tempo está passando muito rápido. Já estou ansiosíssima para colocar minha mochilona nas costas e me mandar para algum lugar bem ensolarado e quentinho, de preferência com lindas praias e comida boa. OI? Ouvi alguém gritar “Itália!”?
Hahaha, quem sabe… 🙂
Beijos!!
Lenita