Salaam Aleikum!
A paz esteja com vocês!
Difícil tarefa é organizar as ideias na cabeça para descrever a bagunça que é Marrakesh. Foi só dar um passo para dentro da Medina e pronto, já estava perdida. Perdida nas direções, pois o lugar é um labirinto dos mais difíceis, e perdida também no tempo. As ruas não tem placas ou qualquer identificação. Pedestres, carros, motos e bicicletas disputam espaço nas ruas estreitas sem passeio e sem ordem. E vez ou outra ouve-se um “Atencion!”, e aí sai de baixo que lá vem gente empurrando carga.
Alívio era chegar à Jemaa El Fna, a praça principal, a partir de onde tudo se encontra. De dia o local é tomado por barracas de suco de laranja feito na hora e quase de graça, exibidores de macacos e cobras, tatuadoras de henna e vendedores de óleo de argan originalmente adulterado. De noite a praça fica iluminada e tomada por uma grande feira de comidas típicas, onde se come muito bem por muito pouco. Com o equivalente a menos de 3 euros tive a minha primeira janta em Marrakesh, em uma das muitas barracas de marroquinos simpáticos e alegres. “Brasiiil? RONALDO!”. A bebida ficou por conta da casa, e o pão da entrada também.
De dia a alegria era passear pelos Souks, um labirinto colorido de lojinhas onde se encontra de tudo. O que se economiza com comida, é pra compensar os gastos nos souks. “Aqui, no Marrocos, nada tem preço.” Foi o que me disse o vendedor da primeira lojinha em que entrei para comprar um brinco. Nada tem etiqueta e nem adianta perguntar quanto custa, o preço se faz na hora. Por meio de negociações e brincadeiras se consegue um bom desconto e o que já era barato, fica ainda muito mais em conta. E não se assuste se, pouco tempo depois de rejeitar a sua oferta, o vendedor ir te seguindo pela rua trazendo o par de sapatilhas que você tanto queria e baixando o preço mais ainda. Depois de uma difícil negociação, quando é feita a compra, vem sempre a pergunta: “You happy?”
E como não ficar feliz? No fim das contas, o que custava 35 euros (ou 350 dirhams), sai por 13, aquele brinco bonito que não cabia no orçamento cai de 18 para 6, e tudo pode ser negociado. Ao pegar um taxi, nem sonhe em ver o taxímetro ligado. O preço tem que ser acertado antes, para se evitar prejuízos. E os espertos estão por toda a parte. Se precisar pedir orientação, já prepare a gorjeta, que é “obrigatória”. A pessoa vai te seguir até o fim da terra, esperando pela recompensa. E se der pouco, vai ouvir reclamação.
Conseguimos um guia turístico para o dia todo por apenas 15 dirhams cada. Fomos atrás dele, nos embrenhando pelas ruelas estreitíssimas e becos escondidos, conhecendo Marrakesh a fundo, onde as pessoas moram, onde fazem suas orações, os palácios, o museu, o mercado, enfim, um pouco de tudo o que era importante. Tudo em espanhol, que lá é muito mais falado do que o inglês. Lá se fala muito o francês, e nos locais mais turísticos também o espanhol. Ao ver as turistas passeando pelas ruas, os mais ousados gritam “Guapas, guapas!”.
Com o guia fomos à mesquita de Kotoubia, a maior mesquita de Marrakesh, onde somente os muçulmanos podem entrar. As orações, viradas para Meca, devem ser feitas em 5 momentos todos os dias. A mesquita tem um sino que é tocado no momento de convocar os fiéis, e também uma bandeira vermelha que é hasteada para aqueles que são surdos. Cada bairro da cidade tem a sua própria mesquita, mas às sextas-feiras (que é tipo o domingo pra eles) todas estão fechadas, exceto Kotoubia, então todos tem que ir fazer suas orações lá.
Todos os bairros também tem os seus próprios Hammam, que são casas de banho. Como a maioria das casas não tem água, eles precisam ir ao hammam ao menos 2 vezes por semana. Existe hammam para homens e hammam para mulheres. O banho consiste de uma esfoliação (que é das brabas), sauna e massagem. Cada etapa é feita em uma sala específica e eles usam o argan para a massagem e esfoliação. Não ouvi nem falar em sabão.
A extrema pobreza da população é escancarada. Eles não pedem dinheiro, pedem um lanche, querem o resto de sua comida. Idosos tentam vender lenços de papel, crianças querem dar informações para receber uma moeda em troca. Todos se oferecem, qualquer um é guia. Apesar disso, consegui me sentir segura andando pela cidade, mesmo à noite, quando não havia muito movimento.
E quanto às comidas, achei todas maravilhosas. Pra falar a verdade, nem vi tantas opções assim nos restaurantes em que comi, mas não liguei de comer Tagine e Couscous algumas vezes seguidas, pois era tudo muito gostoso (o segredo do tempero marroquino é o açafrão). E não tem porque ficar de nojinho, é só saber avaliar o local onde você vai comer e não se aventurar em qualquer barraca suja e nem beber água da torneira. E pode comer o pão da entrada e tomar o cházinho de menta no final que é de graça mesmo :).
A primeira impressão que tive do Marrakesh foi a que ficou, e é a melhor possível. Desde a noite em que chegamos até a hora de ir embora achei admirável aquela cidade cercada de muros avermelhados, onde se misturam carros, motos, turistas, vendedores e locais. Desde a simpatia do motorista de ônibus, passando pela recepção no hostel com chá e biscoitinhos, até o sorriso dos vendedores, quando tentava agradecer a paciência na língua deles, foi tudo muito encantador.
Além dos dias na cidade, tivemos dois dias e uma noite no deserto de Zagora, que contarei depois. Na verdade, ainda tenho bastante pra falar sobre o Marrocos, mas por enquanto:
Shukran, Marrakech!